Meu nome é Nicolly, tenho 12 anos e nasci no Rio de Janeiro. Moro na comunidade do Caracol que fica no Complexo da Penha.

Minha família é composta por 6 pessoas, moramos todos na mesma casa. Divido meu quarto com minhas outras duas irmãs, o que às vezes é chato. Eu queria ter um quarto só para mim e decorá-lo com tinta roxa e borboletas coloridas.

 Meu pai morreu aos 40 anos de câncer no pâncreas. Eu tinha 10 anos. Foi muito difícil para mim deixá-lo, éramos tão próximos. Todos os dias eu chorava e não queria sair do quarto dele. Com o passar dos dias, comecei a aceitar que ele estava em um lugar melhor.

 Sempre morei aqui na Penha. Crescer tem suas dificuldades, suas barreiras, mas é o único lugar que conheço. E eu amo tudo isso, é a minha casa. Adoro poder jogar com meus amigos, jogar e vê-los todos os dias, adoro estar perto da minha família.

As dificuldades que acredito serem as mesmas enfrentadas por todas as comunidades. Nosso monstro é a violência. É tráfico de drogas. E a guerra que existe entre traficantes, policiais e facções rivais. É o medo da bala perdida e de perdermos nossos familiares.

Fico feliz que existam projetos sociais na comunidade, eles trazem esperança para as crianças. E a SCUB (ONG local) é uma delas que me apoia. Meu sonho é ser jogador de futebol profissional.

Tem um campo de futebol perto da minha casa, as meninas de lá viajaram recentemente para o Catar para jogar uma Copa do Mundo para ‘crianças de rua’. Representaram o Brasil.

Minha irmã Jeniffer fazia parte do grupo e fiquei muito orgulhosa dela. Eu também quero fazer isso, mas se não der, quero ser médica. Porém, sei que tenho um longo caminho cheio de desafios pela frente.

Comecei a jogar futebol aos 8 anos e todos achavam que eu era maluco porque batia a bola contra a parede sem parar. Com o tempo, venci o medo e a timidez e fui para o campo perto de casa brincar com as outras crianças.

O futebol significa muito na minha vida porque me deixa feliz, me trouxe novos amigos e é importante para minha saúde. O futebol é minha fuga da violência e a porta para realizar meus sonhos.

Só o fato de estar jogando futebol me deixa feliz. Gosto que os meninos me respeitem, gosto que meus amigos também brinquem. Esqueço que moro em um lugar violento, o futebol me faz viajar para um lugar cheio de esperança. Onde tudo é da cor do arco-íris.

Fiquei muito feliz quando comecei a jogar futebol. Meu sonho era jogar como atacante e quando jogava como atacante eu adorava.

Todas as crianças do SCUB são minhas amigas, somos mais de 60. Eu me identifico muito com as meninas Camilly e Evelyn. Eles são meus melhores amigos. Temos a mesma idade, começamos a tocar na mesma época. Eles são minha base porque me apoiam e me incentivam a continuar jogando e perseguir meus sonhos.

Até no futebol já enfrentei desafios: Um dia os meninos não me escolheram para jogar porque falaram que futebol não era para meninas e um dos meninos mandou eu ir para casa.

Eu fiquei irritado. Transformei minha raiva em força e fui jogar, fui o melhor jogador naquele dia.

Com certeza fiquei muito triste e desanimado, e até pensei em desistir. Mas minhas amigas Camilly e Evelyn não me deixaram desanimar; eles são a minha base.

Enfrentaremos desafios; só precisamos saber como usá-los para o nosso crescimento. Tudo acontece com um propósito e todo propósito nos ensina.

Meu exemplo é a Marta, a atacante brasileira. Ela luta pelos direitos das mulheres no futebol e é uma jogadora incrível. Eu quero ser como a Marta.

Meu sonho é ser jogador profissional, comprar uma casa grande para minha mãe e poder ajudar as crianças da comunidade onde moro.

Farei o meu melhor todos os dias para ajudá-los.

O meu superpoder seria curar, eu curaria todos os doentes, principalmente as crianças. Se eu pudesse inventar uma coisa, seria uma Máquina do Tempo. Eu voltaria no tempo para um lugar onde não houvesse violência. Se eu pudesse mudar uma coisa no mundo, seria acabar com a violência, não é o jeito de resolver as coisas.

 


Para comemorar a Copa do Mundo Feminina da FIFA, estamos orgulhosamente apresentando Joga Como Uma Garota, um programa de histórias de futebol do Brasil.

Os contadores de histórias fazem parte da organização da Associação das Crianças de Rua Unidas (SCUB), no Rio de Janeiro.